Custos “invisíveis” em Gestão de Pessoas: Vilões da Felicidade no Trabalho

Em uma visita que fiz à Amana Key em São Paulo, uma das mais importantes entidades do Brasil, em desenvolvimento de Média e Alta Liderança, participei de um bate-papo com o mestre Oscar Motomura, que nos presenteou com sua sabedoria e inspiração.

Dentre as perguntas feitas pelo grupo ao Oscar, chamou-me a atenção a resposta a uma delas, sobre as principais lacunas nas Organizações, pela simplicidade, profundidade e alinhamento com o que eu acredito:

1º Conduzir o processo de Seleção de Pessoas, de forma eficaz. Poucas Organizações dão a atenção devida a esta “causa” de inúmeros problemas de desempenho e clima organizacional no mundo Corporativo;

2º Cuidar da Cultura da Organização. Valores como ética, transparência, alinhamento entre discurso e prática, respeito genuíno às pessoas, dentre outros, apareceram como pilares da Cultura das Organizações exemplares, e constatamos que aquelas onde a Cultura é desenvolvida o exemplo vem de cima, simples assim; o CEO é a referência maior para engajar todo o Time.

Discutimos também sobre o que a Amana Key chama de “custos invisíveis” nas Organizações, decorrente da ausência de atitudes, preparo profissional, cultura, e outros.

Como profissional da área de Gente, Gestão e Coaching, há mais de 20 anos, pensei com os meus botões: “Ah, se os CEO’s soubessem o valor real destes custos invisíveis, que as empresas e as pessoas pagam quando Gestão, Cultura e Negócio estão desalinhados…”

Vejamos alguns fatos passíveis de “Custos Invisíveis” discutido naquele dia:

Custo da falta de respeito nas relações humanas;

Custo do clima pesado e da crítica destrutiva;

Custo da cultura do medo, que paralisa as pessoas;

Custo da arrogância, da postura de “donos da verdade”;

Custo da cultura da busca de culpados;

Custo do não usar bem os talentos que tem no time;

Custo da alta rotatividade de pessoal;

e por aí vai…

Certamente, muitos de vocês que estão lendo este artigo neste momento já viveram alguma ou várias das situações mencionadas acima, e sabem o custo de cada uma delas. Por exemplo, a dificuldade em separar a mágoa no final do dia, antes de ir pra casa, para não descontar em alguém que você ama, sem falar nos casos onde a passividade das pessoas atingidas faz acumular sentimentos ruins que muitas vezes se transformam em doenças, com custos e prejuízos imensuráveis.

Todavia fico feliz quando me deparo com pessoas (profissionais, conhecedores do talento que possuem e do esforço que fizeram em suas carreiras, conciliando trabalho, estudo e família), que desenvolveram uma consciência crítica, uma espécie de contracultura “do bem”, e não aceitam mais fazer parte de Organizações cuja falta de cultura permite que os custos listados acima prejudiquem os seus sonhos e a sua saúde.

Penso novamente com os meus botões: quantas pessoas, profissionais talentosos, possuem uma imensa vontade de mudar sua Organização (no caso de um CEO), ou mudar de Empresa (no caso de um Colaborador insatisfeito), mas por uma série de fatores, como o próprio contexto econômico desfavorável, as faz perder a coragem necessária, contida neste pensamento abaixo, sobre liberdade, o qual considero dos mais verdadeiros e profundos:

“Somos assim: Sonhamos o voo, mas tememos a altura. Para voar é preciso ter coragem para enfrentar o terror do vazio. Porque é só no vazio que o voo acontece. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Mas é isso o que tememos: o não ter certezas. Por isso trocamos o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.” (Fiodor Dostoievski)

A coragem para “voar” na verdade é o primeiro passo. O planejamento minucioso e a atitude é que vão permitir um “voo” com riscos minimizados, para que a jornada seja desfrutada e o destino da viagem seja conquistado, no menor tempo possível.

Os inúmeros casos de Organizações de sucesso em Gestão de Pessoas comprovam cada vez mais que: felicidade no ambiente de trabalho é lucrativo, e os números confirmam este fato, basta consultar o crescimento das ações na Bovespa, de empresas-modelo em Gestão de Pessoas, nos últimos cinco anos, descontando-se evidentemente, o impacto da pandemia da covid-19.

As Organizações que me refiro acima, têm em comum na alta cúpula, Líderes que possuem respeito genuíno às pessoas e conseguem engajá-las ao Negócio, criando o círculo virtuoso: gerar felicidade e obter lucro, nesta ordem.

“Colaboradores felizes trazem os melhores resultados, não o inverso” (Robert Wong)

Na rede de varejo Magazine Luiza por exemplo, a Presidente do Conselho, Luiza Helena Trajano, disse: “nós colocamos as pessoas em primeiro lugar e cultivamos a cultura do ganha-ganha”. Márcio Fernandes, ex-CEO da Elektro declarou o seguinte, sobre funcionários e colaboradores: “Quem funciona é máquina. Pessoas tem a opção de colaborar, desde que elas queiram”. Esses são exemplos de Respeito Genuíno às Pessoas.

A grande diferença entre o resultado obtido nos negócios, pelas Organizações mencionadas acima, está exatamente na prática e não apenas no discurso. Não só eu, mas acredito que muitos de vocês também já presenciaram alguns CEO’s dizerem: “Aqui na empresa, as pessoas estão em primeiro lugar…” e na primeira crise, ao invés de buscarem uma solução inovadora para aumentar a receita com as pessoas, pegam o caminho mais fácil, “cortando-as” na folha de pagamento, muitas vezes sem qualquer critério.

Considero como parte da minha missão profissional e pessoal apoiar Organizações e Pessoas a conquistarem voos mais altos, baseado em valores essenciais que permitem o foco no resultado lucrativo sim, mas também na construção de uma cultura cuidadosa com qualidade nas relações humanas, apoiada em solo fértil para a realização de sonhos a um custo justo e consciente para Empresa, Colaboradores e Sociedade.